Casa Livre

“Por serem de lá, do sertão, lá do cerrado, lá do interior do mato…” são homens e mulheres moldados pela terra, e também pelos passarinhos. Fortes para o arado, sensíveis para as mensagens da natureza. A série audiovisual Do Interior do Mato convida a descobrir a riqueza cultural da zona rural do Triângulo Mineiro, por meio de 10 episódios, com exibição gratuita no Youtube. 

Do Interior do Mato abre caminhos mato adentro para revelar, no interior de Minas Gerais, sua gente, seus causos, seu tempo assíncrono, sua sensibilidade e dialeto próprios, sua cultura que revive de prosa em prosa. Cada episódio apresenta uma história que vai muito além dos pastiches e dos estereótipos dos sertanejas e caipiras, abrindo um universo repleto de música, pintura, escultura, poesia, educação, medicina natural, além de novas práticas na lida com animais e com a terra, como a doma racional e a agroecologia. 

Filmada nas redondezas da cidade de Uberlândia (MG) na zona rural e seus distritos, passando por Miraporanga, Martinésia, Tapuirama, Tenda do Moreno, assentamentos Celso Lúcio Moreira da Silva e Emiliano Zapata, a série propõe uma verdadeira imersão no Interior. “Quisemos promover uma viagem de volta ao primordial, ao início de tudo, que é a terra. Mesmo estando atravessados pelo interior, muitas vezes, vivendo na cidade, vamos nos distanciando desse lugar, que também é uma forma de ver o mundo”, afirma Danilo Vieira, realizador do projeto, que assina roteiro e direção.

Segundo o araguarino residente em Uberlândia, além da riqueza das manifestações culturais e naturais do interior, a série documental apresenta novos caminhos de subsistência e relação com a natureza trilhados por agricultores e pecuaristas familiares, menos impactantes ao meio ambiente. E, sobretudo, amplifica a visão de mundo deste homem que resiste e se reinventa no interior. “Com uma beleza singela, uma visão crítica sobre o funcionamento das coisas, uma perspectiva de saúde no amplo sentido”, afirma Vieira.  

EP01: Jubiano e Raycon – A doma racional

“Você tem que ser parte da manada”

Francisco Jubiano

 

Ali pelas bandas de Miraporanga, onde as práticas ancestrais são escritas na pedra, lá mesmo, misturado aos tons avermelhados da terra, enfrentando cavalos tinhosos e mulas veiacas, está Jubiano trilhando um novo caminho junto aos companheiros do assentamento Emiliano Zapata. Com reverência no olhar e um toque afetuoso, ele ressignifica a doma, trocando a velha lógica do domínio pela do respeito. Raycon Felipe mal se segurava nas pernas quando passou a seguir os passos do pai. Mas o filho não é único que aprende com Jubiano, homem sensível de espírito educador, que aprende e ensina sobre a linguagem dos animais, exercitando mais a confiança do que o cabresto.

EP02: Edson Mandela – A educação libertadora

“Não é facil ser negro no Brasil. Nos é negado quase tudo”

Edson Mandela

 

Estimado por toda Comunidade São José, bem ali na Tenda do Moreno, seu Edson carrega aquela altivez do Nelson que lhe apelida. Homem culto, de palavras tão simples quanto potentes, entrega em poucos minutos de prosa seu olhar crítico sobre o mundo. A infância ávida por conhecimento lhe levou à cidade, onde se desenvolveu autodidata, sempre envolvido política e culturalmente. Na maturidade, recuou às chácaras para uma vida mais tranquila, mas não sem valor. Poeta, pintor, pensador, hoje, ajuda a alargar o território da infância com sua arte. 

EP03: Duda – A saúde da terra

“Aqui a gente coloca o mato no prato”

Duda

 

Por uma vida sem veneno, fumaça e doença, Duda voltou ao primordial: a terra. E, de lá, reapreende a palavra saúde, na cadência do natural, na sua perspectiva integradora, no seu potencial de nutrir e curar. A partir de movimentos sociais fundamentais para a ocupação produtiva da terra, Duda vivencia os princípios de uma economia pautada pela solidariedade, de uma agricultura que rima com ecologia. Assim, pedindo à terra somente o suficiente e aproveitando sua totalidade, da casca à semente, ela cultiva e transforma a vida.

EP04 José Abadio – A poesia cantada

“De longe vocês escutam o peito dedsse matuto de felicidade suspirar. Seu moço,, é lá um lugar bom pra se morar!”

José Abadio

 

Matuto declarado, tendo perdido o pai aos 5 anos e começado a lida ainda menino, seu Abadio bem que podia ter encruado pela dureza da vida, incapaz de enxergar o belo através do chão batido. Mas, como passar ileso pela tardezinha? O sol pintando todo canto de amarelo-alaranjado, os passarinhos dedilhando melodias no céu – leves, ligeiros, brilhantes. Pois, seu Abadio não teve escapatória: deu para a poesia! Autor publicado, emociona com seus poemas narrados, de uma energia vibrante, cada palavra significando, cada cadência um novo fôlego.    

 

EP05: Pedro Eustáquio – As plantas que curam

“Você sentir que nosso organismo vive da natureza”

Pedro Eustáquio

 

Raizeiro de mão cheia, seu Pedro comunica a ciência da “geração natural”. Ali pelas bandas do assentamento Emiliano Zapatta, cultiva todo tipo de mato que cura. Sua vocação é ancestral, herança do cruzamento de África com a Nação Indígena, da mestiçagem que forjou o Brasil. Mas a natureza também foi sua professora, e ele um aprendiz atento e sensível. Olhando bem de perto, pela beleza de suas palavras e o jeito suave com que percorre o mundo, é possível até condiserar que a natureza tenha curado sua própria alma machucada por quase duas décadas de escravidão.

 

EP06: Caipora – A ecologia e a arte

“Quando buscamos as necessidades essenciais, a gente tem todas as respostas ao nosso redor” Liana Onça

 Em uma jornada de renovação do existir no mundo, ocuparam uma terra de encantamento no meio do cerradão – e esperaram, no “tempo de que fazer”*. Caipora, o pequeno índio “habitante do mato”, batizou a comunidade, que nasceu na perspectiva da integralidade. Quem plantou a semente dessa utopia foi a saudosa Maria Inês Mendonça, fundadora do Grupo Faz de Conta de teatro de bonecos. Povoou o imaginário da filha Liana desde menina, com sonhos de arte, comunhão, cooperação. Nas convergências da vida, ela encontrou Mazer, que buscava viver em sintonia, e não em rivalidade, com a natureza. E, mais tarde, outros vieram somar no propósito. Angie, Raphael, Alberto, Lilia fortaleceram o desafio de regeneração, e juntos cresceram no amor e na dor, no contínuo aprendizado da arte de viver. 

* “À sombra dessa Mangueira”, Paulo Freire

EP07: Gabriel – O Casarão de Miraporanga

“Eu ja produzi bastante comida que foi pro meu prato desde que eu cheguei”

Gabriel

 

Na busca da nascente do rio, Gabriel mergulhou contra a correnteza. Em 2019, o garoto da cidade iniciou uma jornada de reencontro do marco primordial: a terra. Plantar a própria comida sem veneno, cuidar dos animais, viver o sonho da auto-subsistência, transformar o sentido da existência. Nessa travessia, achou sua morada em Miraporanga. Por uma sincronia fantástica da vida, foi parar na última casa do distrito, uma metáfora da sua própria andança. Datada dos idos de 1890, a residência começa na cidade e termina no rural, cravada na encruzilhada em que seu próprio morador se encontra.   

 

EP08: Graciele – A escultura intuitiva

“No fim a gente sempre crava onde nasceu”

Graciele

 

Morou em Uberlândia, morou em Birigui, mas não teve jeito: a boa filha tornou à Martinésia. Foi de lá que começou a transformar as paisagens, os bichos, as casas, os causos, tudo que vê, com olhos e imaginação, em arte. Para realizar suas visões,Graciele ressignifica o concreto da vida – cimento, vidro, plástico, arame, papel, tambor, cabaça, esqueleto. Sempre em busca de novas experiências, mobilizando todo recurso, se arriscando nas linguagens, fazendo o próprio caminho, como não? Uma artista contemporânea. 

 

EP09: Paulo Henrique – A Sanfona e a Folia de Reis

“Eu gosto demais da conta. Eu tando na folia eu esqueço de tudo, só de Deus que não”

Paulo Henrique


Na prosa com seu Paulo, é a sanfona que fala. Entre um dedilhado e um zigue-zague, ressoam um causo e outro de quase uma vida de música. Paixão antiga, o instrumento encantou o menino que escapava de casa para os bailes de Martinésia há mais de 40 anos. A primeira lição veio do tio, na base da cultura oral que atravessa gerações. Mas, sua escola mesmo foi a Folia de Reis. A partir de Cruzeiro dos Peixotos, todo santo ano, rodou a região alegrando cortejos de Reis, e assim aprendeu tocando! 


EP10: Marco Nagoa – As práticas de consumo

“Importante saber o que estou consumindo, quem estou beneficiando”

Marco Nagoa

 

Do mato ao concreto, na travessia irremediável em busca do tal progresso, o que perdemos? Em meio à pandemia mundial da COVID-19, chegamos à cidade nos perguntando: é possível construir relações menos exploratórias no urbano? Enquanto procura respostas, Marco Nagoa trabalha. Desde 2003, movido por essa busca, iniciou experimentações em música, capoeira, permacultura, agrofloresta, agroecologia. Sua jornada culminou na criação de uma rede de produtores, especialistas e consumidores para comercialização direta de produtos ecológicos em Uberlândia.

 

 

Voltemos. Sim, voltemos ao interior do mato para descobrir essa riqueza!

“Do Interior do Mato” abre caminhos mato adentro para revelar, no interior de Minas Gerais, este homem que se reinventa, seus causos, seu tempo assíncrono, sua sensibilidade e dialeto próprios, sua cultura que revive de prosa em prosa através das gerações. A série documental te convida a descobrir a riqueza desse interior que somos todos nós, por meio de 10 episódios. Vem com a gente!  

 

Série Documental | Brasil | 140 min | 2022

Uma realização de Danilo Vieira 


Roteiro e Direção: Danilo Vieira

Assistente de Produção: Maria Mars e Rodrigo Valim

Direção de Fotografia e Montagem: Humberto Oliveira Prado

Imagens: Afonso Henrique

Direção de arte e ilustrações: Maria Mars

Vinheta e Motion Graphics: Danilo Vieira

Música tema: Kainã Bragiola e Matheus Bruno Neves

Comunicação de Projeto: Carolina Monteiro

Redes Sociais: Bruna Freitas

Produção: Thiago Carvalho

Apoio: Casa Livre Audiovisual e Editora Subsolo

Incentivo: Programa Municipal de Incentivo à Cultura da Prefeitura Municipal de Uberlândia


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